Conceito de Manejo Integrado do Fogo

Anja Hoffmann @ GIZ
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O que é o Manejo Integrado do Fogo?

O manejo de incêndios e queimadas é um assunto complexo que abrange vários aspectos, desde as características ecológicas de diversos biomas até o seu uso tradicional por uma variedade de povos e comunidade com objetivos distintos. O fogo pode ser tanto benéfico como prejudicial, dependendo de como, onde, quando e porque é utilizado. O Manejo Integrado do Fogo (MIF) busca um equilíbrio entre estes diversos aspectos com enfoque na conservação da biodiversidade e proteção do clima, além de oferecer benefícios às comunidades locais.

O MIF aborda:

  • a análise de regimes do fogo apropriados para o ecossistema;
  • a prevenção de incêndios;
  • a preparação para o combate;
  • o controle e a supressão de incêndios e
  • a restauração.

Portanto, o MIF abrange vários subtemas e atividades que consideram aspectos ambientais, sociais e econômicos de diversos interessados, tendo como base a cooperação entre uma ampla gama de instituições para executar os programas técnicos, logísticos, operacionais e sociais.

Análise de Regimes de Fogo

Leonardo Milano @ ICMBio
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A análise dos impactos, dinâmicas e causas do fogo é essencial para subsidiar decisões de Manejo Integrado do Fogo.

A depender das causas principais dos incêndios – se, por exemplo, decorre de atividade humana ou do acúmulo de combustível – é necessário adotar uma estratégia específica, com mais ênfase em campanhas de Educação Ambiental ou no manejo de combustível.

No âmbito do MIF, a pesquisa é importante para analisar as respostas ecológicas aos regimes de fogo. Isso envolve: (i) a caracterização do comportamento e da intensidade do fogo durante as diferentes estações; (ii) a análise dos impactos do fogo sobre a biodiversidade e (iii) o monitoramento da regeneração da carga de combustível.

O monitoramento é outro aspecto-chave para assegurar que o MIF seja implementado de forma apropriada. Por meio do sensoriamento remoto são monitoradas a área queimada, as estimativas de intensidade do fogo, acúmulo de biomassa e biomassa queimada.

Essas informações são essenciais para planejar o manejo do fogo do ano seguinte, especialmente por identificar áreas com acúmulo de biomassa que exigem queimas prescritas ou locais estratégicos para estabelecer aceiros. 

Prevenção

Robin Beatty
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Iniciativas de prevenção de incêndios são fundamentais para o Manejo Integrado do fogo. Muitas vezes são mais efetivos do que os esforços de controle e combate aos incêndios.

Manejo do Fogo de Base Comunitária 

O Manejo do Fogo de Base Comunitária (MIFBC) busca promover a responsabilidade e o protagonismo das comunidades residentes em unidades de conservação e seu entorno no processo de tomada de decisão sobre o uso do fogo, visando minimizar a ocorrência e a extensão de incêndios.

O Manejo do Fogo de Base Comunitária é uma forma de gestão territorial que promove a efetiva participação das comunidades locais no planejamento e implementação conjunta de queimas controladas. Com isso, possibilita: (i) proteger a infraestrutura das comunidades; (ii) proteger áreas de recursos naturais importantes, como pastos, terras agrícolas e florestas sensíveis ao fogo; (iii) melhorar as práticas agropecuárias de subsistência; e (iv) assegurar que as queimas sejam realizadas de maneira mais benéfica para a conservação da biodiversidade e proteção do clima.

Manejo do Fogo por meio da confecção de aceiros

Aceiros são faixas desprovidas de vegetação cuja finalidade é provocar a descontinuidade de material combustível e, assim, evitar a propagação de um incêndio florestal. Os aceiros são confeccionados como medida de prevenção, podendo aproveitar estradas e caminhos existentes para aumentar sua eficiência. Em 2012, foram confeccionados aproximadamente 2,5 mil quilômetros de aceiros em unidades de conservação federais, um aumento de 40% em relação ao ano de 2010.

A escolha do momento do ano é fundamental para o emprego desta abordagem e existem “janelas de oportunidade” relativamente curtas, de algumas semanas, para que as diversas combinações de paisagem e carga de combustível permitam seu uso. Em geral, o início da estação seca (maio a julho), quando predominam ventos suaves, temperaturas baixas e material combustível (grama, mato etc.) parcialmente seco, é ideal para a confecção de aceiros e limitar a intensidade e a extensão dos incêndios.

Alternativas ao uso do fogo

Os dados disponíveis sobre a origem dos incêndios indicam que o uso do fogo na agropecuária é uma de suas principais causas. Desse modo, a promoção de alternativas ao uso do fogo deve ser vista como uma ação estratégica para a diversificação dos meios de vida dos comunitários, promovendo a sustentabilidade ambiental, social e econômica, e reduzindo o uso do fogo.

Muitas são as técnicas agropecuárias que podem ser utilizadas para diversificar os meios de vida dos comunitários, que não impliquem no uso do fogo, como a adubação verde, a agricultura orgânica, a apicultura, a arborização das pastagens, o artesanato, o manejo ecológico de pastagem, entre outros. Nesse sentido, promover atividades alternativas entre os produtores rurais e seus familiares, facilitando o acesso a boas práticas de manejo, pode proporcionar a redução dos incêndios florestais sem comprometer a segurança alimentar das famílias locais.

Educação Ambiental

A Educação Ambiental é um dos componentes do manejo do fogo em base comunitária cujo objetivo é possibilitar a participação e integração de todos os setores da sociedade nesse esforço coletivo.

Ao sensibilizar a comunidade local sobre o perigo de incêndios, práticas ecologicamente sustentáveis de manejo, alternativas ao uso do fogo na agropecuária e, ao mesmo tempo, esclarecer sobre técnicas, épocas e estruturas apropriadas para realizar queimas controladas, a Educação Ambiental cumpre papel essencial para a prevenção de incêndios.

Preparação Para o Combate

Melissa Decaria @ Naturatins
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Qual a importância dos instrumentos de planejamento e da capacitação dos brigadistas para a prevenção e o combate de incêndios florestais?

Instrumentos de Planejamento

Instrumentos de planejamento, tais como Planos de Proteção e Planos Operativos, podem contribuir significativamente na prevenção ou no combate aos incêndios florestais, pois são documentos de ordem prática, que funcionam como instrumentos dinâmicos para a gestão de recursos humanos e materiais e para o apoio à tomada de decisão.

O principal objetivo destes instrumentos é definir estratégias e medidas eficientes e aplicáveis dentro de planejamentos anuais, com vistas a reduzir a incidência, minimizar os impactos e estruturar os municípios e as unidades de conservação para o combate aos incêndios. Esses instrumentos têm sido aplicados com sucesso em unidades de conservação e em alguns municípios brasileiros afetados por incêndios florestais, sendo uma das ferramentas-chave para o MIF.

A importância dos brigadistas para a prevenção e o combate

A capacitação de brigadistas para a prevenção e o combate a incêndios florestais é uma das principais ações desenvolvidas no MIF.

Os brigadistas são responsáveis tanto pelo combate aos incêndios florestais quanto por atividades de prevenção, como a sensibilização das comunidades e a realização de queimas controladas e queimas prescritas. O programa de brigadistas objetiva incluir as comunidades na gestão das áreas protegidas, aumentar a presença institucional e oferecer uma alternativa de geração de renda local.

A estrutura de gestão dos incêndios florestais conta com instrutores para formação de brigadistas, investigadores de causa e origem de incêndios florestais e gerentes do fogo distribuídos nas diferentes áreas de atuação.

Controle e Supressão

Leonardo Milano @ ICMBio
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O uso do fogo de forma controlada ou prescrita, na época certa e com a frequência e intensidade adequadas pode minimizar o risco de ocorrência dos grandes incêndios florestais.

Queimas controladas

A relação do homem com o Cerrado remonta a mais de 12 mil anos e tem sido marcada pelo uso do fogo para a caça, a agricultura e a pecuária. Ainda hoje a queima é um recurso importante no modo de produção de pequenos produtores rurais, por exemplo, na limpeza do terreno para o plantio, no combate a pragas e na renovação de pastagens. Contudo, quando sai do controle, se transforma em incêndios com impactos altamente negativos, em especial em formações vegetais sensíveis ao fogo. 

Uma das formas de minimizar este risco é a realização de queimas controladas, planejadas conjuntamente entre as comunidades e as autoridades locais. Seu objetivo é assegurar que o uso do fogo seja realizado de forma controlada, na época certa e com a frequência e intensidade adequadas.

Queimas prescritas

O uso do fogo pode ser recomendado para objetivos específicos de manejo em áreas prioritárias de conservação da biodiversidade, como quando prescritos para a redução de combustível, ou para formação de mosaicos de áreas queimadas na vegetação, com o intuito de criar barreiras naturais à propagação de incêndios. Diversos estudos nacionais e internacionais demonstram que o fogo utilizado desta maneira emite menos carbono para a atmosfera, além de ser ecologicamente adequado para ecossistemas que evoluíram com a sua presença, como é o caso de algumas fitofisionomias do Cerrado.

Supressão

Comumente referido como "combate ao incêndio" a supressão ou resposta é na verdade conter um incêndio, evitando que ele se espalhe ainda mais. O método usual é reduzir o fogo de acesso a novos combustíveis através da criação de uma linha de fogo em torno do perímetro do fogo, com objetivo de parar sua propagação. Uma vez que a linha de fogo estiver estabelecida, e a propagação do fogo for contida, inicia-se um processo chamado “limpeza” ou “extermínio” por meio do resfriamento das brasas e hotspots do fogo.

Todas as linhas de fogo funcionam segundo o mesmo princípio: remoção de combustível ou tornando-o menos inflamável. Eventualmente, o fogo vai queimar todo o combustível e se extinguir naturalmente. O tipo de vegetação, terreno, pontos fortes do fogo e as condições climáticas é que determinam as larguras da linha de fogo.