Programa Piloto de Manejo Integrado do Fogo é implementado em três Unidades de Conservação do Cerrado

O Manejo Integrado do Fogo (MIF) é uma abordagem holística que considera aspectos ecológicos, socioculturais e técnicos, e propõe o uso de queimadas controladas no início do período de seca com vistas a garantir a conservação e o uso sustentável de ecossistemas. O objetivo é mostrar que o fogo pode ter impactos negativos e positivos a depender de como, onde, quando e porque é utilizado, apresentando-se como uma estratégia para a redução de incêndios e para a redução de emissões de gases de efeito estufa.

O aprimoramento do MIF em Unidades de Conservação é um dos eixos principais do Projeto Cerrado-Jalapão. Sendo assim, em 2014, foi realizado, pela primeira vez no Brasil, um Programa Piloto de MIF em três Unidades de Conservação do Cerrado: o Parque Nacional da Chapada das Mesas (PNCM), o Parque Estadual do Jalapão (PEJ) e a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins (EESGT). Para apoiar essa iniciativa, foi contratado o especialista em MIF, Robin Beatty, com mais de dez anos de experiência em manejo do fogo em savanas no Sul da África e no Norte da Austrália.

O Programa é constituído por três etapas: o planejamento, realizado entre março e abril, seguido da implementação (junho e julho) e, finalmente, a etapa de avaliação, prevista para outubro e novembro.

Com o intuito de familiarizar-se com a área, a etapa de planejamento baseou-se no levantamento de informações em campo, como o histórico e regime do fogo, uso do fogo pelas comunidades e validação em campo do mapa de acúmulo de biomassa elaborado a partir de imagens de satélite. Foram realizadas também consultas e reuniões com os gestores, analistas ambientais e atores chave de cada UC, visando revisar os objetivos de manejo do fogo, capacidade, recursos e estrutura disponível para determinar o potencial para a implementação do programa piloto. Todas as informações coletadas nas UC, juntamente com mapas de cicatrizes de queima de 2012 e 2013 e o mapa de acúmulo de biomassa, foram usados para identificar, dentro de cada UC, Zonas de Manejo do Fogo (ZMF), áreas menores que facilitaram a implementação do programa piloto. A implementação foi realizada numa ZMF, no meses de junho e julho, baseada em dois componentes chave de MIF: queimas controladas e Manejo do Fogo em Base Comunitária (MiFBC).

Juntamente com a brigada e a equipe de cada UC, implementaram-se queimas controladas estratégicas e de baixa intensidade para reduzir e fragmentar a quantidade de biomassa, criando mosaicos de áreas queimadas e não queimadas. Essa técnica tem o objetivo de criar uma rede de aceiros interligados que minimiza a ocorrência e a extensão dos incêndios no final da estação seca, e de facilitar o monitoramento e controle de incêndios. 

 
Queima controlada no Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Maranhão. Foto: Leonardo Milano/ICMBio

Outro elemento prioritário e essencial no MIF é a integração das comunidades residentes no interior e entorno da UC para a implementação das queimas controladas, conhecido como Manejo do Fogo em Base Comunitária (MiFBC). Toda a equipe em campo apoiou a comunidade na realização das queimas com fins de manejo, promovendo seus meios de subsistência e usando as capacidades e recursos comunitários existentes.

Manejo do Fogo em Base Comunitária (MiFBC) na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins. Foto: Guilherme Moura

Adicionalmente, a etapa de implementação foi acompanhada por um grupo de pesquisadores em Ecologia do Fogo, que coletaram biomassa pré e pós-queima, descreveram as condições meteorológicas e fizeram medições de intensidade e velocidade de propagação da frente do fogo. Além de caracterizar essas queimadas para subsidiar as tomadas de decisão dos gestores com esse tipo de manejo, outras queimadas foram realizadas em coordenação com a passagem de satélites capazes de captar alguns parâmetros de fogo, que juntamente com as medidas em campo permitem calibrar os modelos de cálculo de emissões de gases de efeito estufa (GEE) oriundas de queimadas. 

Foram semanas de intenso trabalho, onde participaram, de uma forma ou de outra, todas as instituições parceiras do projeto. No final da implementação, os resultados das queimas realizadas foram apresentados pelos gestores das UC, em Palmas – TO. Participaram dessa reunião técnica, o Ministério do Meio Ambiente, ICMBio, Ibama/Prevfogo e as instituições estaduais do Tocantins, Semades e Naturatins, que concordaram com a necessidade de avançar na internalização e institucionalização do MIF nas UC do Cerrado. No mês de outubro, após a campanha de fogo, foi realizada uma missão de avaliação, visando à validação e a capacitação no uso de informações de satélite para o planejamento e implementação do Manejo Integrado do Fogo em 2015.